O que é Normal e quando investigar?
Os despertares noturnos são uma das principais preocupações dos pais nos primeiros meses e até anos de vida dos bebés e crianças.
Eu sei….estão sempre a perguntar-me quando é que o bebé dorme…. Mas nem todos os despertares são sinal de problema — muitos fazem parte do desenvolvimento normal do sono infantil. Aqui o truque é perceber o que é expectável e o que não é e pode ser trabalhado a nível comportamental e o que não é e pode ser sinal de alguma patologia. Porque nem tudo é normal mas também nem tudo são as chamadas insónias infantis, provocadas por má higiene de sono.
Nos adultos, o sono tende a ser mais estável e os despertares durante a noite são geralmente breves e inconscientes (microdespertares). Já nas crianças, o sono é mais leve, os ciclos são mais curtos (50–90 minutos) e as transições entre fases são menos consolidadas. Isso torna os despertares noturnos mais frequentes — e visíveis…até porque muitas vezes o bebé e criança pede o contacto com o adulto para voltar a adormecer. É fisiológico que os bebés e crianças pequenas acordem durante a noite, primeiro simplesmente porque precisam de se alimentar.
Na fase de recém nascido os ciclos de sono são regulados pela fome, e não por ciclos de sono. Só a partir dos 4-6 meses é que começamos a ter ciclos de sono regulares, e mesmo assim…as noites de regulares não têm dada. O número de despertares tende a diminuir progressivamente à medida que o sono se organiza. Contudo, quando os despertares são muito frequentes, persistem após os 2/3 anos, ou interferem com o bem-estar da criança e da família, é importante procurar ajuda especializada.
Fatores Comportamentais que dificultam o sono:
Alguns fatores comportamentais podem contribuir para a dificuldade em manter o sono:
- associações de sono (que nem sempre são positivas ou negativas – depende da idade, da dinâmica da família e da própria associação)
- ansiedade de separação
- ausência de rotinas previsíveis
- exposição a ecrãs ou estímulos intensos antes de dormir
E depois mesmo quando tudo parece regulado há sempre um dente a nascer ou uma constipação ou um dia de festa que altera as rotinas todas…e lá vai tudo começar de novo.
Será tudo comportamental?
Mas nem todos os casos se resolvem com “boas práticas de sono”. É essencial que os profissionais de saúde estejam atentos a possíveis causas médicas associadas a distúrbios do sono: apneia obstrutiva do sono, refluxo gastroesofágico, síndrome das pernas inquietas, entre outros.
O acompanhamento clínico permite identificar sinais de alarme e avaliar quando é necessário avançar para uma investigação mais aprofundada (como polissonografia por exemplo).
O sono é um pilar essencial da saúde infantil — interfere no crescimento, no desenvolvimento neurológico, na imunidade, no comportamento e na qualidade de vida de toda a família. Respeitar o ritmo de cada criança, mas também saber quando procurar ajuda, é fundamental.
Despertar à noite pode ser normal. Mas quando deixa de ser, há sempre estratégias e soluções possíveis — com base na causa real.
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Alguma Bibliografia
- Mindell, J. A., & Owens, J. A. (2015). A Clinical Guide to Pediatric Sleep: Diagnosis and Management of Sleep Problems (3.ª ed.). Lippincott Williams & Wilkins.
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